A população brasileira continua sofrendo com dívidas e contas atrasadas. Em março de 2023, o endividamento atingiu 78,3% das famílias do país, mesmo patamar que o observado no mês anterior.
No ano passado, o Brasil teve o maior percentual de endividados já registrado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Em outras palavras, a péssima notícia é que situação financeira das famílias do nunca se mostrou tão crítica em um ano fechado quanto em 2022.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela Peic, o endividamento perdeu força no país nos últimos meses. Contudo, o patamar segue muito elevado, refletindo as dificuldades dos brasileiros em honrar os seus compromissos.
Confira abaixo as taxas de endividamento dos brasileiros nos últimos seis meses:
Vale destacar que o percentual de endividamento cresceu fortemente no Brasil em 2021, refletindo o impacto da pandemia da covid-19, e a trajetória continuou subindo em 2022.
O cenário desafiador em que o país se encontrava, com a inflação elevada, pressionou o Banco Central (BC) a aumentar os juros no país, reduzindo o poder de compra do consumidor.
Entre março de 2021 e agosto de 2022, o BC elevou 12 vezes consecutivas a taxa básica de juro da economia, a Selic. Com isso, a taxa chegou a 13,75% ao ano, maior percentual desde novembro 2016.
Inclusive, a inflação elevada fez os brasileiros aumentarem seu endividamento nos últimos anos, uma vez que o mercado de trabalho ainda se recuperava dos impactos da pandemia e a renda familiar estava enfraquecida no país.
Segundo a Peic, os consumidores que tiveram as maiores taxas de endividamento em março foram os de renda mais baixa. Por outro lado, os consumidores com o rendimento mais elevado tiveram percentuais um pouco menores no mês, mas ainda bastante elevados.
Confira abaixo os percentuais de endividamento por faixa de renda em março:
Vale destacar que em março do ano passado a situação era a mesma, com a primeira faixa de renda (de 0 a 3 salários mínimos) apresentando o maior percentual de endividados do país (78,3%), enquanto os mais ricos tinham a menor taxa (73,7%).
No entanto, outro destaque foi o aumento percentual de cada faixa de renda pesquisada. Em um ano, os mais ricos tiveram o maior aumento percentual (1,4 ponto percentual). Por outro lado, o menor avanço percentual veio dos mais pobres (0,6 ponto percentual).
Assim como o endividamento, o número de famílias inadimplentes também se manteve em nível bastante elevado em março. De acordo com a Peic, três em cada dez famílias estava com dívidas atrasadas no país.
A saber, a taxa caiu de 29,8%, em fevereiro, para 29,4%, em março. Embora tenha recuado levemente no mês, a taxa superou em 1,6 ponto percentual o número registrado em março de 2022, quando as dívidas atrasadas atingiram 27,8% das famílias do país.
Por falar nisso, a pessoa inadimplente é aquela que possui dívidas ou contas em atraso. Em resumo, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
A Peic ainda revelou que 11,5% das pessoas não terão condições de pagar as dívidas que têm em atraso. Esse percentual recuou levemente em relação ao mês anterior (11,6%), mas subiu 0,7 ponto percentual na comparação com março do ano passado (10,8%), refletindo o aumento das dificuldades financeiras no país no último ano.
Por isso, para fugir do endividamento e da inadimplência, e não se aumentar os números de pesquisas semelhantes à Peic, fique atento à sua situação financeira e faça dívidas apenas se houver necessidade.
De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, “a Peic é, hoje, um dos principais diagnósticos da saúde econômica do Brasil, pois identifica quais os principais gargalos da melhoria das condições financeiras da população brasileira”.
Em síntese, o levantamento é realizado mensalmente desde janeiro de 2010 pela CNC. A entidade coleta dados em todas as capitais dos estados do Brasil e no Distrito Federal, entrevistando aproximadamente 18 mil pessoas.
“São apurados importantes indicadores de endividamento e inadimplência, que possibilitam traçar um perfil do endividamento, acompanhar o nível de comprometimento do consumidor com dívidas e a percepção em relação a sua capacidade de pagamento”, explica a CNC.