A aliteração consiste na repetição consonantal consecutiva disposta estrategicamente no verso poético ou na frase. Essa repetição não é aleatória. Trata-se, portanto, de um recurso estilístico muito utilizado principalmente pelos escritores da literatura brasileira.
Conforme a gramática do português, a aliteração classifica-se como uma das figuras de linguagem que através dos aspectos fonéticos das palavras atribui caráter sonoro no texto.
A origem da palavra aliteração vem do idioma latino “alliteratio”, que já é oriundo do termo “littera”, e sua significação é “letra”. E na língua escrita a sonoridade das letras, especificamente das consoantes, se encarregam de um efeito linguístico especial graças a aliteração.
Podemos perceber que a recorrência linguística da aliteração é nos gêneros literários e nas composições musicais. Continue lendo esse artigo e conheça mais sobre essas construções sintáticas com o Guia Enem.
Os textos literários são um universo de palavras criativas. E com os poemas do advogado e poeta mineiro, Wagner Martins, não são diferentes.
Leia abaixo um de seu poemas e observe o “jogo” fonológico que a repetição da consoante “v” provoca:
Vovó viu a uva
mas não viu o vovô
que viveu a vida
voando
e velejando
em busca de vivas.
Vovó viveu a vida,
vigiando vovô,
que não via a uva
pelo lado vívido
da vivencia
voraz.
Vovó viu o vovô
vigiando a vida,
para viver a uva
que viu a vela
pela vivência
voraz da vida.
Vovó era voraz
de vivência vívida
e vigiava a uva
pra viver a vida
velejando em vivas
mas não viu vovô.
Vovó viveu a vela
se viu em vivas
na voragem da uva
de vovô que vivia
pela vida em vivas
prá viver davi.
É importante destacar que nas composições musicais, somente a aliteração não é suficiente para a harmonização do arranjo musical. Pois, são outros recursos linguísticos, como a assonância e as rimas, que auxiliam nesses tipos de construções.
Leia abaixo a letra da música “Já sei namorar” do grupo musical brasileiro Os Tribalistas, composto por Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown e observe as aliterações em negritos:
Já sei namorar
Já sei beijar de língua
Agora só me resta sonhar
Já sei onde ir
Já sei onde ficar
Agora só me falta sair
Não tenho paciência pra televisão
Eu não sou audiência para a solidão
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo me quer bem
Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo é meu também
Já sei namorar
Já sei chutar a bola
Agora só me falta ganhar
Não tenho juiz
Se você quer a vida em jogo
Eu quero é ser feliz
(…)
Em cada estrofe da música houve a predominância de uma determinada repetição consonantal. Na primeira estrofe, por exemplo, a sugestão fônica da repetição dos fonemas \j\ e \r\ caracteriza, possivelmente, o conhecimento da relação amorosa e das atitudes mais assertivas.
Os famosos trava-línguas ou ditados populares são os exemplos clássicos de aliteração.
A razão disso é porque as construções sintáticas têm como principal objetivo dificultar a pronúncia das palavras, com a repetição de fonemas iguais ou similares. Leia abaixo alguns exemplos:
Quem com ferro fere com ferro será ferido
repetição consonantal do “f”
O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar
repetição consonantal do “s”
Três tigres tristes para três pratos de trigo
repetição consonantal do “t”
Três pratos de trigo para três tigres tristes”
repetição consonantal do “t”
A pia pinga, o pinto pia. Quanto mais a pia pinga, mais o pinto pia.
repetição consonantal do “p”
A arara de Araraquara é uma arara rara.
repetição consonantal do “r”
Sábia sabido sabe assobiar
repetição consonantal do “s”
Dorme o gato, corre o rato e foge o pato
repetição consonantal do “t”
As figuras de linguagem podem ser classificadas como figuras de sintaxe, de pensamento, de palavras ou sonora.
E a aliteração insere-se justamente nessa última subcategoria das figuras de linguagem que a figura sonora.
Além dela, existem também outras figuras sonoras. E são elas: assonância, paronomásia e onomatopeia.
Inicialmente, é preciso distinguir o conceito das duas principais figuras sonoras – a aliteração e a assonância – por terem conceitos gramaticais muito próximos.
A assonância é marcada no texto pela repetição vocálica, ou seja, das vogais. Veja nos exemplos abaixo a diferença entre ambas:
O peito do pé de Pedro é preto.
Nesse trava-língua temos a repetição consonantal do fonema \p\ . Observe ainda que é uma repetição consecutiva que provoca uma determinada sugestão fônica. Nesse caso, é uma aliteração.
Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe
Sou o seu bezerro gritando mamãe!
Esse papo meu tá qualquer coisa
E você tá pra lá de Teerã!
Agora, nesse trecho da música “Qualquer coisa” do cantor brasileiro Caetano Veloso temos a repetição vocálica do “e” com o som aberto e fechado, através das palavras “berro, aterro, desterro e erro”.
E ainda ocorre a repetição dos fonemas \ã\\i\ através das palavras “ganhe, apanhe e mamãe”. Por isso, trata-se de uma assonância.
Leia abaixo o conceito e exemplos das demais figuras de som:
paronomásia: realiza a distinção dos sons das palavras parônimas, ou seja, aquelas que a escrita e o significado diferente e a pronúncia semelhante.
Exemplo 1 : Os docentes da faculdade têm muito carinho pelos discentes.
Exemplo 2: O peão sertanejo gosta de jogar pião com seus amigos.
onomatopeia: figura que imita vários sons.
Exemplo 1: O gatinho do vovó fez “miau”.
Exemplo 2: O relógio da igreja faz “tic-tac”.