Pessoas mais pobres poderão passar a ter um pouco mais de dificuldades para realizar apostas esportivas. Uma ideia em discussão é fazer com que os sites ligados ao tema criem uma espécie de limitação de apostas para as pessoas que recebem até uma determinada renda per capita. A medida visa diminuir a perda de dinheiro.
Os números desta proposta ainda não foram oficialmente definidos, ou seja, não se sabe qual seria a renda mínima permitida para que o cidadão apostasse de maneira livre. Atualmente, não há nenhum tipo de limitador neste sentido, isto é, independente da classe social do indivíduo ele pode apostar quanto dinheiro desejar em quantas apostas achar melhor.
A ideia de impor uma espécie de limitação já está sendo discutida há algumas semanas nos corredores do Congresso Nacional, mas estava apenas no campo da discussão. Nesta quinta-feira (22), a ideia ganhou um entusiasta de peso, o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos. Em uma entrevista publicada pelo jornal Folha de São Paulo, ele falou sobre o assunto.
“Acho que a pessoa tem que ter um ganho mínimo para poder jogar ou, de acordo com a sua renda, ter um limite para jogar por mês”, disse ele. Bastos também defendeu que as empresas precisam ajudar no processo de educação financeira dos apostadores. “Não há um investimento das bets para educar”, disse ele.
“A educação é fundamental para ensinar ao jovem que ele não pode jogar, ao jovem atleta que ele não pode jogar, ao atleta já profissional que isso é crime, que não pode jogar, ensinar ao cidadão que isso pode ser prejudicial à renda dele, que isso pode prejudicar a família dele”, seguiu Bastos na mesma entrevista.
O presidente da FPF disse que, para além do problema da realização de apostas por pessoas mais humildes, há também a questão do vício. Não há dados oficiais sobre a quantidade de cidadãos que estariam nesta situação desde o início da atuação dos sites de apostas no Brasil, mas a avaliação de analistas é de que este problema está crescendo.
“Em algum lugar tem que ter (a regulamentação). Acho que deve haver uma regra para as pessoas. Para muita gente, isso é um vício. Como tal, deve ser tratado, cuidado e observado. Eu acredito que a lei ou a Medida Provisória precisam tratar disso com seriedade, precisam estabelecer uma regra”, disse o presidente da FPF.
Esta não é primeira vez que a preocupação com o vício em apostas aparece no debate público. No Congresso Nacional, por exemplo, há quem peça a instituição de medidas para tentar diminuir o alcance das apostas esportivas.
“Ninguém consegue mais assistir ao jogo: é aquela coisa do “aposte, aposte, aposte”. É na camisa do time, nas placas dos gramados, é na propaganda que acontece essa invasão total que está levando as pessoas a perderem tudo. Isso destrói a magia de uma partida de futebol e é uma porta larga, aberta para o vício do jogo de azar, que destrói famílias inteiras”, disse o senador Eduardo Girão (Novo-CE).
“Ou se proíbe, ou se regulamenta, vedando a publicidade a isso, porque tem até jogador de futebol fazendo propaganda. Tem que ter muita atenção porque tem vício envolvido, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) já fala da ludopatia (compulsão por jogos de azar) como algo gravíssimo”, completou ele.
“O futebol arte e entretenimento, como esporte preferido do povo, está sendo contaminado por essa praga, podendo se tornar apenas mais um negócio. Precisamos, estar bem atentos a isso e buscar formas de proteger o futebol, ameaçado cada vez mais pela avidez daqueles que colocam o dinheiro acima de tudo, não se importando com as consequências dos danos morais e sociais disso. Essa é uma responsabilidade do Congresso e do governo”, completou ele.