Economia

Apagão: por que Roraima foi o único estado a não ser atingido?

Uma queda de energia no Brasil impactou milhões de brasileiros de todas as regiões do país nesta terça-feira (15). De acordo com informações oficiais, milhares de cidades de 25 estados brasileiros e do Distrito Federal foram atingidas pelo apagão. Apenas uma unidade da federação passou ilesa do fenômeno: Roraima.

Coincidência? Sorte? Nada disso. Há uma razão técnica que explica o porquê deste estado do Norte ter sido o único a não ser impactado pelo apagão deste semana. Roraima é a única unidade da federação que não faz parte do Sistema de Integração Nacional de Energia Elétrica (SIN). Logo, ele não poderia ter sido atingido pelo problema.

Hoje, o sistema de energia recebido por Roraima é gerado por usinas termelétricas movidas a óleo diesel, gás natural, biomassa, além de uma pequena central hidrelétrica. Quando uma falha atinge o SIN, todas as unidades da federação podem ter problemas, menos uma: Roraima.

Mas isso é bom?

Provavelmente, algumas pessoas que estão lendo este texto podem estar pensando: “Roraima é autossuficiente. Não depende dos outros”. Mas isso não é bem verdade. O estado não gosta de estar separado do resto do Brasil neste sentido, e está há anos lutando para entrar no SIN o mais rapidamente possível.

Roraima pode até não ter sido atingida por este apagão específico, mas o seu sistema próprio não é tão seguro quanto se pode imaginar, e o estado vem sofrendo mais fortemente com apagões internos nos últimos anos, do que a média de falta de energia no resto do Brasil.

Entre os anos de 2001 e 2019, o estado de Roraima foi abastecido com a energia elétrica do Linhão de Guri, em Puerto Ordaz, na Venezuela. Em 2019, o país vizinho registrou uma série de apagões. Resultado: o estado brasileiro também sofreu uma série de apagões. Desde então, o fornecimento foi interrompido e agora esta unidade da federação é dependente das usinas termelétricas.

Roraima segue sendo dependente de termelétricas. Imagem: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Possibilidade de mudança

Curiosamente, na última semana, ainda antes do apagão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, decidiu assinar uma ordem de serviço. O objetivo do documento é dar início ao processo de entrada de Roraima no SIN. A ideia é conectar o estado através da linha de transmissão de Manaus-Boa Vista.

“O decreto vai permitir realizar contratos para a trazer energia limpa e renovável da Venezuela, da usina de Guri, que volta a ter um papel importante para garantir energia barata e sustentável para Roraima e para o Brasil”, destacou o ministro Alexandre Silveira.

“Serão investidos R$ 2,6 bilhões nas obras, que vão substituir usinas termelétricas e garantir energia confiável, limpa e renovável. Os moradores de Boa Vista e cidades próximas dependem de usinas termelétricas movidas a óleo diesel, gás natural, biomassa e uma pequena central hidrelétrica. A expectativa é de mais de 11 mil empregos diretos e indiretos com as obras, com previsão de serem concluídas em setembro de 2025”, diz o governo federal.

O apagão

Com a já explicada exceção de Roraima, o apagão desta semana atingiu todo o Brasil. Os primeiros relatos de falta de energia foram registrados às 8h30. O problema já foi resolvido e a luz foi restabelecida em todo o país, mas quase 24 horas depois do ocorrido, ainda não se sabe qual foi o motivo da queda.

“Uma ocorrência na rede de operação do Sistema Interligado Nacional interrompeu 16 mil MW de carga em estados do Norte e Nordeste do Brasil. Estados do Sudeste também foram afetados. A causa da queda é apurada”, disse o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), por meio de nota.

Em entrevista coletiva na tarde desta terça, 15, o ministro de Minas e Energia disse que não descarta nenhuma possibilidade, nem mesmo a chance de um ato proposital, e pediu para a Polícia Federal (PF) investigar o caso.